Não há como deixar de se impressionar com o cenário mostrado no filme Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E aqui não me refiro às constantes cenas de ação que o filme proporciona do início ao fim, mas a outro aspecto que se mostra cada vez mais presente, de forma perigosamente lenta, a nos enganar até nos pegar totalmente sem condições de reverter a situação.
Refiro-me ao dramático cenário pós-apocalíptico retratado no filme com a falta d’água no planeta, levando ao caos a sociedade da forma como a conhecemos hoje. Quem viu o filme pode sentir a luta de um grupo de sobreviventes pela água, diante um mundo seco, sem vegetação, sem agricultura. Como consequência, a aridez da terra e o surgimento de grupos rivais que lutam, a todo custo, pelos limitados recursos, cometendo todo o tipo de barbárie. A humanidade não está tão distante de um cenário assim, infelizmente.
Foto 1. Charlize Theron – a Furiosa de Mad Max – entra em desespero quando descobre que o sonhado “mundo verde” não mais existe.
É impressionante como o cenário de falta d’água tem crescido no Brasil em tão pouco tempo. Você tem reparado nisso? Acompanha os noticiários a respeito? Se preocupa com isso? Pelo menos pense a respeito.
Se antes o Nordeste era a expressão da seca e falta d’água, hoje o Sudeste – região mais populosa do país – sofre com a escassez de água. Não que no Nordeste o cenário tenha mudado pra melhor, muito pelo contrário.
Chega a ser desesperador ver os enormes mananciais que há pouco tempo abastecia milhões de pessoas com água atingirem níveis críticos e – em alguns casos – irreversíveis, segundo relatos de pessoas que estudam e acompanham a crise, como o Greenpeace, por exemplo.
Figura 2. Cantareira, em São Paulo, no momento mais crítico (final de 2014 e início de 2015).
Hoje somos as rãs da história da rã na água fervente!
Enquanto as atenções se voltam para grandes eventos – como foi o caso da Copa 2014 e como serão as Olimpíadas Rio 2016 – e também a corrupção generalizada no Brasil, além do eterno ciclo de 2 anos com eleições em níveis municipal e estadual e federal, a natureza vai dando seu recado aos poucos, ou seja, vai aumentando a temperatura da água na panela, enquanto ficamos acomodados.
Há exatos 10 anos estive na cidade de Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, mais precisamente na barragem que abastecia a cidade e outras cidades próximas e o cenário era outro completamente diferente do que se vê hoje. (veja figuras 3 e 4)
Figura 3. Barragem de Pau dos Ferros em 2005.
Figura 4. Barragem de Pau dos Feros em 2015.
A natureza cobra caro pelo desprezo com que a espécie racional do planeta – será? – tem tratado seus recursos naturais, em especial, a água.
É impressionante como não sabemos usar os recursos naturais de forma racional, conscientes de que não são ilimitados. Estamos poluindo nossos rios e mares por que é fácil jogar os dejetos sem tratamento e “a correnteza vai levá-los para outro lugar mesmo”.
Vejamos o absurdo que é – e assim está há anos sem nenhuma autoridade política, intelectual e/ou jurídica se manifestar – a poluição do rio Mossoró. (veja figura 5)
Figura 5. Rio Mossoró (rio?) completamente poluído e tomado por aguapés em pleno centro da cidade.
Na cidade conhecida como a Capital do Semiárido do Nordestino, com 300 mil habitantes, ter um rio cortando-a no meio, deveria ser motivo de orgulho da população. Orgulho em tratá-lo bem e mostrá-lo como algo belo e agradável para a própria população e visitantes. Em vez disso maltratamos e poluímos num descaso que beira a irracionalidade. E as autoridades políticas? Nada. Vangloriam-se quando, a cada governo, “atualizam” os planos diretores que nunca saem do papel. Permitem construções irregulares nas margens do rio, talvez para ajudar a esconder a poluição do mesmo, retrato da incapacidade de gestão pública e intelectual do nosso povo em resolver o problema.
Já estamos pagando a conta, só que não percebemos. E é aí onde mora o perigo! E as próximas faturas virão com juros cada vez mais altos.
Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas – a comunidade internacional precisa se preparar para a nova era da “hidro-diplomacia”, à medida em que a ameaça de escassez de água ameaça mergulhar o mundo em um período de tensão geopolítica.
Segundo a opinião é vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson, “a água é uma das maiores prioridades para o desenvolvimento e para uma vida digna, assim como um fator para manter a paz e a segurança”. E continua: “existe a necessidade de uma ‘hidro-diplomacia’ – fazendo da escassez de água uma razão para cooperação ao invés de uma razão para conflito.”
A difícil situação da água que o mundo enfrenta foi recentemente exemplificada pelo Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Água 2015: “Água para um mundo sustentável”, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
De acordo com o relatório, o planeta vai sofrer um déficit de 40% no abastecimento de água até 2030 se a comunidade internacional não melhorar radicalmente seu gerenciamento. Espera-se um aumento por volta de 55% até 2050 – e 20% das fontes mundiais de água subterrânea já estão sendo superexploradas.
Figura 6. Até o ano de 2050 o planeta vai estar com um déficit de 55% no abastecimento de água.
Não podemos viver como as rãs, temos que tomar consciência da realidade que nos aguarda e às futuras gerações.
Comecemos nas nossas casas, economizando água, fechando as torneiras, evitando os vazamentos, diminuindo o tempo no chuveiro, etc. mas precisamos – de alguma forma – ir além, para que as próximas gerações tenham futuro de paz no planeta.
Figura 7. As futuras gerações dependem das ações que forem tomadas agora.
Para saber mais acesse – e colabore – com organizações não governamentais como o Greenpeace (veja a seção de links neste site).
Quase esqueci!!!
A história da rã, para quem não conhece, refere-se a um experimento onde se pegarmos uma panela com água, levá-la ao fogo, e quando a água ferver colocarmos uma rã dentro a rã, que vai sentir o calor na pele, vai se mandar rapidinho, num salto só! Agora… se pegarmos uma panela com água fria, colocar a rã dentro a mesma vai gostar e vai se acomodar, pensando que está vivendo no melhor dos mundos. Mas, se acendermos o fogo e controlar o aumento da temperatura, aos poucos a água vai esquentando e a rã em vez de pular fora, vai se acomodando ao calor da água e dalí não sai até morrer fervida! Percebeu o perigo?