Neste artigo vamos fazer uma viagem ao passado – lá pela segunda metade dos Anos 80 – para relatar um pouquinho de minha história – e de muitos jovens da época – com a programação de computadores até me tornar o que sou hoje: DBA (administrador de bancos de dados).
Numa época de condições financeiras nada favoráveis e disponibilidade de recursos de aprendizagem escassos a gente se virava como podia – revistas emprestadas, poucos livros disponíveis e até mesmo uma “colinha” em exemplares nas bancas para pegar um trechinho de código que pudesse ajudar nos estudos.
Naquela época a Internet nem imaginava existir, ainda mais nos moldes que a conhecemos hoje, e as leis brasileiras restringiam bastante a entrada de novas tecnologias no país – e até hoje somos atrasados tecnologicamente.
Como sempre gostei de matemática – anos depois acabaria por me graduar em Matemática e depois me especializar em Informática – desvendar-me pelo mundo da computação era um desafio muito prazeroso.
Desde o começo o meu foco foi pelo desenvolvimento para bancos de dados. Sempre achei incrível a programação para o armazenamento e recuperação de informações e uma de minhas primeiras ideias era criar um banco de dados para armazenar os dados dos meus livros.
É aí que começa a saga com os computadores pessoais, mais especificamente com o TK 90X.

Figura 1. Logomarca do TK 90X color computer.
O TK 90X, produzido pela Microdigital em 1985, foi o primeiro clone brasileiro do microcomputador inglês ZX Spectrum produzido pela Sinclair Reseach. Utilizava como linguagem de programação residente o BASIC Sinclair (hoje temos a poderosa C#). Seu processador era um Z80A, de 8 bits (hoje temos os processadores de 64 bits nos notebooks e tablets), com um Clock de 3,58 MHz (o meu smartphone atual é 850 vezes mais veloz). A Memória RAM era de incríveis 48 Kbits (o meu smartphone atual tem 22 mil vezes mais memória que isso) e resolução de vídeo era de 192 x 256 pixels (as resoluções 4K hoje em dia suportam 3840 × 2160 pixels), com uma quantidade de cores suportada de 8 cores, com 2 tons cada (os monitores atuais suportam mais de 16 milhões de cores).

Figura 2. TK 90X color computer. Meu primeiro computador pessoal.
Na época, um regulamento brasileiro especial permitia que a indústria local pudesse produzir e vender cópias de computadores estrangeiros (só para o mercado doméstico) e por isso obteve um grande sucesso no Brasil, iniciando muitos jovens da época na arte da programação de computadores, entre os quais eu.
Era sofrido, mas era incrível naquela época, sem recursos, sem Internet, sem literatura adequada, sem instrutores, sem outras pessoas com quem conversar a respeito – na época éramos eu e meu primo e amigo, então proprietário do TK 90X, dividindo experiências e conhecimentos adquiridos na programação de computadores.

Figura 3. Dois dos raros livros disponíveis no Brasil na época voltados para a programação.
Quando me tornei proprietário do TK 90X é que pude me aprofundar mais nos estudos, durante as noites-madrugadas, depois que a TV ficava livre e disponível. Sim, o TK 90X não possuía monitor e tínhamos que liga-lo à TV para poder funcionar. E naquela época não tínhamos TV em cada cômodo da casa como hoje em dia não, heim?

Figura 4. Aspecto da tela da TV com o a interface do TK 90X e um trecho de código em linguagem BASIC de programação.
O chato era que o aparelho não possuía sistema de armazenamento permanente, ou seja, ao desliga-lo se perdia toda a programação feita e no dia seguinte tínhamos que iniciar a programação do zero! Já deu pra imaginar que não dava pra criar grandes programas desta forma né? Tinha que adquirir um gravador de fita K7 – isso mesmo, os dados permanentes eram armazenados em fita K7, na velocidade padrão de uma fita K7, dá pra imaginar isso? E você ainda reclama da lentidão de seu computador atual…

Figura 5. Aspecto de um ambiente de trabalho com o TK 90X na época. Imagem da Internet.
Com o advento do gravador de fita K7 pude armazenar meus primeiros programas de bancos de dados, sendo estes os eventos iniciais de minha saga na programação para bancos de dados, o que ainda realizo até os dias atuais, mas com as grandes facilidades da época atual, como linguagem de programação de alto nível e recursos de pesquisa e computacionais altamente avançados, além da Internet e os grupos de discussão especializados existentes por todo o ambiente virtual, tendo passado antes pelas gerações do MSX, CP 500 da Prológica, IBM PC XT, toda a família x86 até os PCs e notebooks atuais.

Figura 6. Computador MXS da Gradiente. Este já possuía cartuchos para gravação dos programas. Foto da Internet.

Figura 7. Meu primeiro curso de programação foi com o CP 500, que já utilizava disquetes de 5 polegadas. Um avanço na época.
Hoje, não precisamos sair de casa. Não precisamos de cursos especializados. Não precisamos de mestres instrutores. Precisamos apenas da nossa capacidade matemática e a mesma garra e disposição que tínhamos nos anos primeiros da saga para construirmos grandes soluções que não ficam restritas apenas ao nosso ambiente computacional pessoal, mas atingem números que passam da casa dezenas de milhares de pessoas, através do ambiente compartilhado da Internet.

Figura 8. Aspecto atual do meu ambiente de trabalho em casa. Computadores avançados e Internet para conectar-me com o mundo.
E olhando assim para trás é que a gente percebe como a tecnologia avançou desde os incríveis Anos 80, onde tudo começou, e vendo as notícias de tecnologia atuais imaginamos como será daqui a 30 anos, com todo o avanço na área de robótica e inteligência artificial.
De minha parte, vou continuar com o meu foco na programação voltada para bancos de dados, mas sempre com os pés no momento presente, adequando os estilos, usando as melhores ferramentas disponíveis e idealizando as melhores soluções na gestão de sistemas de bancos de dados.

Figura 9. Aspecto da interface de programação atual utilizando linguagem C#.

Figura 10. Aspecto da interface de um aplicativo desenvolvimento para smartphones atuais.
O desafio de hoje não são os raros recursos disponíveis, mas sim a enorme variedade de ferramentas, ambientes e tecnologias disponíveis, logicamente aliados à velha disposição e garra de dominar os novos desafios e algo que só o tempo e a experiência de vida pode proporcionar: o conhecimento por experiência prática e não teórica.
A saga continua!!!
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