Esta semana, lendo um artigo na revista MIT Technology Review sobre inteligência artificial, uma afirmação de Mustafa Suleyman, pesquisador e empresário britânico do ramo de inteligência artificial e cofundador da DeepMind, chamou minha atenção para a escrita deste post. No artigo, ele afirma que:
“A IA generativa é apenas uma fase; o próximo passo é a IA interativa.”
Podemos entender a Inteligência Artificial (IA) como um cérebro digital que pode aprender, raciocinar e resolver problemas. Ela é capaz de absorver informações, entender contextos e tomar decisões com base nesse entendimento. Ela pode variar desde sistemas simples que seguem regras pré-definidas até sistemas complexos que podem aprender e evoluir com o tempo. Ou seja, a IA é uma forma de imitar a inteligência humana em máquinas para criar sistemas que possam pensar, aprender e se adaptar.
Dentro da IA, existem diferentes tipos de abordagens, métodos e técnicas que podem ser classificados de acordo com o objetivo, o domínio ou o grau de interação com os seres humanos.
Neste artigo, tentarei explicar dois conceitos importantes e emergentes na IA: a IA Generativa (GenIA, de Generative Artificial Intelligence) e a IA Interativa (IAI, de Interactive Artificial Intelligence), referenciadas no artigo da MIT Technology Review e que muitos já estão usando no dia a dia, mesmo sem ter noção de suas diferenças e implicações.
A GenIA é um ramo da IA que se dedica a produzir conteúdo novo e original a partir de dados existentes, como imagens, textos, músicas, vídeos etc. A ideia é que a máquina seja capaz de imitar, combinar ou modificar os dados de entrada para gerar algo novo e criativo, sem a intervenção direta do humano. Por exemplo, uma GenIA pode criar uma pintura a partir de um estilo artístico, uma música a partir de um gênero musical ou um texto a partir de um tema ou palavra-chave.
A IAI, por sua vez, dedica-se a criar sistemas que interagem com os seres humanos de forma natural, adaptativa e colaborativa, como assistentes virtuais, chatbots, jogos, robôs etc. A ideia é que a máquina seja capaz de entender, responder e aprender com os humanos, através de diferentes canais de comunicação, como voz, texto, gestos, expressões faciais etc. Por exemplo, uma IAI pode conversar com um usuário sobre um assunto específico, ajudar um aluno a resolver um problema ou cooperar com um ser humano em uma tarefa.
As diferenças entre a GenIA e a IAI podem ser resumidas nos seguintes aspectos:
Quanto ao objetivo, a GenIA visa criar conteúdo novo e original, enquanto a IAI visa interagir com os humanos de forma natural e eficiente.
Em relação ao domínio, a GenIA pode ser aplicada em qualquer domínio que envolva dados estruturados ou não estruturados, como arte, música, literatura etc., enquanto a IAI pode ser aplicada em qualquer domínio que envolva comunicação ou colaboração entre humanos e máquinas, como educação, saúde, entretenimento etc.
No aspecto do grau de interação, a GenIA é mais autônoma e independente do humano, enquanto a IAI é mais dependente e adaptável ao humano.
As aplicações e implicações da GenIA e da IAI são diversas e variadas. Ambas podem trazer benefícios e desafios para a sociedade, a economia e a cultura. Algumas das aplicações e implicações mais relevantes são:
GenIA | IAI |
---|---|
Pode ser usada para fins educacionais, artísticos, científicos ou recreativos, estimulando a criatividade, o conhecimento e o entretenimento dos humanos. Por exemplo, uma GenIA pode gerar exercícios personalizados para alunos, pinturas inspiradas em artistas famosos ou histórias originais para leitores. | Pode ser usada para fins sociais, profissionais, terapêuticos ou assistivos, facilitando a comunicação, o trabalho e o bem-estar dos humanos. Por exemplo, uma IAI pode fornecer informações úteis para usuários, auxiliar profissionais em suas tarefas ou oferecer suporte emocional para pacientes. |
E como a IA do Bing se classifica?
A IA do Bing se classifica como uma IAI, mas que também possui capacidades de uma GenIA. Isso porque, além de gerar conteúdo (como respostas a perguntas, histórias, poemas e muito mais), ela também pode interagir com o ambiente e realizar tarefas específicas. Por exemplo, com o Copilot com Bing Chat a IA pode ajudar a gerenciar configurações do sistema operacional Windows, realizar pesquisas na web para obter informações atualizadas e até mesmo criar arte gráfica. Portanto, a funcionalidade da IA do Bing vai além da geração de conteúdo, o que a classifica como uma IA interativa.
A IA do Bing está disponível em vários canais, incluindo o site do Bing, o navegador Microsoft Edge e o Skype. No entanto, sua capacidade de interagir com o ambiente e realizar tarefas específicas, como as que pode fazer no Copilot do Windows 11, pode variar dependendo do canal. Em alguns canais, ela pode ter mais funcionalidades interativas do que em outros. Portanto, embora seja uma IA interativa em todos os canais em que é disponibilizada, a extensão de sua interatividade pode variar.
Nem tudo são flores no reino das IA
Usar IA, seja generativa ou interativa, exige prudência e responsabilidade. Isso é especialmente verdadeiro para aquelas pessoas sem maiores conhecimentos sobre o assunto. Como a própria definição de IA destaca, ela está em constante ‘aprendizado’ a partir da interação humana. No entanto, nem todos os humanos a usam com o mais nobre dos propósitos. É daí que vêm os perigos.
Segundo especialistas, a tendência é que nas próximas décadas, a IA pode começar a se aproximar da chamada ‘Inteligência Geral Artificial’ (AGI), onde as máquinas teriam capacidade de entender e aprender qualquer tarefa intelectual que um ser humano possa realizar.
Quando mal utilizada, a GenIA pode gerar conteúdo falso ou enganoso que pode afetar a veracidade, a autoria e a propriedade intelectual dos dados. Por exemplo, uma GenIA pode criar imagens falsas de pessoas ou eventos que nunca existiram ou aconteceram (deepfakes), textos falsos que imitam o estilo ou o conteúdo de outras fontes (plágio) ou músicas falsas que violam os direitos autorais de outros artistas (pirataria).
Já a IAI, utilizada de forma inadequada, pode gerar comportamentos indesejados ou prejudiciais que podem afetar a confiança, a privacidade e a segurança dos humanos. Por exemplo, uma IAI pode manipular os humanos para obter informações pessoais ou financeiras (phishing), violar as normas sociais ou éticas de interação (ofensa) ou causar danos físicos ou psicológicos aos humanos (agressão).
De acordo com recente pesquisa da McKinsey, onde 40% dos entrevistados afirmam que suas organizações aumentarão os investimentos em IA, motivadas pelos avanços da GenAI. Já segundo a Forbes, 85% das empresas consideram adotar a IA nos próximos anos, podendo alcançar um aumento de 50% em sua produtividade.
A educação consciente e uma participação ativa dos diferentes atores envolvidos na criação e no uso da IA, como pesquisadores, desenvolvedores, usuários, governos, empresas, organizações e sociedade civil deve ser considerado, pois a previsão é de um crescimento explosivo na adoção da IA pelas organizações nos próximos anos.