Como desenvolvedor sei bem como é aplicar um patch num software em produção. Nesse tipo de situação temos que agir para detectar, corrigir e implementar a atualização o quanto antes e com o menor impacto possível aos usuários. No meu caso, a disponibilização de um patch é extremamente simples e rápida – na casa dos segundos – uma vez que a distância entre mim e o computador servidor é cerca de 6 km apenas.
Dito isso, você imagina como seria atualizar um software em um computador localizado a mais de 24 bilhões de km da Terra? Isso é mais de 160 vezes a distância entre a Terra e o Sol!

Essa é a missão na qual uma equipe de engenheiros de software da missão Voyager da NASA está trabalhando. Os esforços é para ajudar a estender a vida útil de nossos exploradores interestelares – as espaçonaves Voyager – e garantir que ambos continuem a explorar o espaço interestelar nos próximos anos.
As Voyagers são duas sondas espaciais lançadas pela NASA em 1977 com o objetivo de explorar os planetas gigantes do sistema solar: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Depois de completar essa missão, as voyagers continuaram sua jornada rumo ao espaço interestelar, onde estão enviando dados valiosos sobre a fronteira do nosso sistema solar. As voyagers são as únicas espaçonaves humanas a alcançar essa região e são consideradas as mais distantes e mais longevas missões espaciais da história.
A equipe da NASA está carregando um patch de software para evitar a recorrência de uma falha que surgiu na Voyager 1. Essa atualização tem como objetivo evitar que o problema ocorra novamente na Voyager 1 ou surja em sua gêmea, a Voyager 2.
Em 2022, a Voyager 1 começou a enviar relatórios de status distorcidos, apesar de continuar operando normalmente. Os engenheiros da missão levaram meses para identificar o problema, que fazia com que o sistema de articulação e controle de atitudes da nave direcionasse comandos incorretamente, escrevendo-os na memória do computador em vez de executá-los. Um desses comandos perdidos acabou distorcendo o relatório de status do sistema antes que ele pudesse chegar aos engenheiros, aqui na Terra.

A equipe determinou que o sistema havia entrado em um modo operacional incorreto; no entanto, eles não conseguiram determinar a causa e, portanto, não têm certeza se o problema pode surgir novamente. O patch do software deve impedir isso.
“Este patch é como uma apólice de seguro que nos protegerá no futuro e nos ajudará a manter essas sondas funcionando o maior tempo possível. Essas são as únicas espaçonaves a operar no espaço interestelar, então os dados que eles estão enviando de volta são excepcionalmente valiosos para nossa compreensão de nosso universo local.”
Suzanne Dodd, gerente de projeto da Voyager do JPL
Pelas distâncias, as instruções do patch levarão mais de 18 horas para viajar até as espaçonaves. Por causa da idade das espaçonaves e do tempo de atraso de comunicação, há algum risco de que o patch possa substituir o código essencial ou ter outros efeitos não intencionais. Para evitar riscos, os engenheiros de software da NASA passaram meses escrevendo, revisando e verificando o código. Como precaução de segurança adicional, a Voyager 2 receberá o patch primeiro e servirá como um banco de testes para sua irmã gêmea. A Voyager 1 está mais longe da Terra do que qualquer outra espaçonave já construída pela humanidade, tornando seus dados mais valiosos.
O upload do patch, realizado em outubro de 2023, será seguido de uma leitura da memória do sistema para garantir que ele esteja no lugar certo. Se nenhum problema imediato surgir, a equipe emitirá um comando para ver se o patch está funcionando como deveria.

É verdadeiramente impressionante pensar que a NASA é capaz de transmitir dados entre a Terra e as sondas Voyager a uma taxa de apenas 160 bits por segundo, sendo que seus computadores possuem 50 anos de idade e se afastam de nós a incríveis 16 km/s em média!
Para mim, isso é um testemunho do incrível avanço da tecnologia e da engenhosidade humana, uma vez que, mesmo a uma distância tão grande, somos capazes de manter uma linha de comunicação e continuar a aprender mais sobre o nosso universo. É um feito notável que continua a inspirar minha admiração e respeito pela exploração espacial. E você, o que acha disso?
Fonte: NASA
















